quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Lagoa, capivaras, cão e suspense

E decidiram andar um pouco antes de pegarem a Dutra, rumo a são Paulo. Já era noite. Garoava. Quando passaram pelo portão, pensaram em desistir. Não pela escuridão, mas pela chuva que parecia apertar um pouco mais. Ela, sempre indecisa, fazia coro pra voltarem. Ele, como topa qualquer coisa, falava: “- Vamos lá. Que chuva que nada. São só pingos finos e estão espaçados. Não pega nada!” Decidiram continuar. Acho que isso era um aviso para desistirem. Porém, não deram bola. Continuaram a caminhada. Longa caminhada.
Ruas totalmente desertas, somente um boxer meio branco, meio cinza claro. Tipo a cor de São Paulo. Cor de poluição. No primeiro encontro com ele, ficaram com medo. Mas não podiam e não esboçaram. Passado o susto, ele falou: “-Minha Vó falava que não pode demonstrar medo do cão, se não ele percebe e ataca. Ah, ela fala que não pode brincar com faca também, porque o diabo atenta.” Ela desconsiderou o comentário tolo do garoto. Continuaram a andar, sempre em volta ao grande lago, sempre em companhia do Boxer poluído. Às vezes ele passava e sumia na frente. As vezes andava lado a lado com eles. Já não tinham medo dele. Achavam. Passaram por uma festinha no clube social do condomínio. Já estavam desmontando tudo. Mas, mesmo assim, ele imaginou coisas. Não falou. “Hum... já pensou se esse cachorro entra ai e come todo mundo?!” Ainda bem que ficou só no pensamento. Pois seria novamente ignorado pela garotinha ao seu lado. Tolo. Passaram pela piscina. Pensaram em sentar na mesa do lado dela. Teriam que atravessar o jardim até lá. Desistiram. A grama estava muito molhada. Era arriscado. Podiam cair. Fizeram a primeira curva. Próximo a entrada do condomínio. Na guarita, apenas uma tevê ligada e um vigia meio sonolento. Ignoraram. Igualmente foram ignorados. Continuaram o passeio. Agora, reparavam nas casas. E imaginavam seu futuro. O futuro juntos. Foram interrompidos pelo Boxer poluído, passando mais rápido que o normal junto aos muros. Cachorros de algumas casas começaram a latir. Não sei se com inveja de sua pseudoliberdade, ou por instinto mesmo. O Boxer poluído não deu atenção. Continuou reto. Em direção a uma grande pedra junto ao lago. Continuava escuro, porém, não tanto como metros atrás. Acho que os olhos já estavam acostumados. Mais alguns passos avistaram um enorme roedor. A Capivara, tão falada no dia anterior, ali estava. Feia como as que moram no Rio Tietê, em plena Marginal Tietê. Eis que aparece o Boxer poluído e vai pra cima da Capivara. Ela não tem medo e revida. Enquanto isso os dois estão rezando na beira d’água, morrendo de medo e querendo correr. Mas ele lembra dos dizeres da Vó, e finge que nada ocorre. Pura ilusão. De repente a Capivara corre para dentro d’água. E volta com mais uma aliada. O Boxer poluído percebe sua inferioridade perante as duas e corre em direção oposta. O mesmo faz os dois em direção a guarita da entrada. Ouve-se um assovio. Ele escutou. Ela não. O Boxer poluído desaparece. Não é mais visto. Na guarita, o vigia sonolento, porém simpático, é questionado sobre as Capivaras selvagens. Ele diz: “- Não se preocupem. Elas não fazem mal algum”. Agradecem as palavras e voltam em direção a grande pedra. A água parece cair em mais abundancia do céu. As Capivaras já ficaram para trás. E muitas poças de lama pela frente. Decidem parar em um deck suspeito, sobre a água. Pelo menos era coberto. Esperam um pouco. Observam a água cair no lago. Escutam o Ipod dele. E comentam o ocorrido. Dão risadas e seguem rumo a casa. Enfim, seguros. Sã e salvos. Mais uma pra ficar para história. Como a própria estória dos dois.

Nenhum comentário: